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Interferência dos Dispositivos Celulares na Educação (parte 4).

"Os benefícios da prática regular de exercícios físicos na infância e adolescência vão além da saúde física, incluindo também melhorias na cognição, na autoestima e nas relações sociais." Andrea Deslandes – IPUB UFRJ


Recomendações na Contemporaneidade.


Durante o 14º encontro da série 'Diálogos do Brincar' em 2017, o pesquisador da USP, o pediatra Ricardo Guelman em sua palestra “O brincar e a saúde integral infantil" (Guelman, 2017), defende a ideia que a Pedagogia Cognitivista deveria contaminar-se com a Pedagogia Fenomenológica. Seu argumento é que as crianças não estão tendo chance de lograr a expansão corporal e sensorial plena e necessária. Esse fato, segundo ele, restringe o amadurecimento cerebral e as possibilidade existenciais da pessoa, trazendo sérias consequências para a saúde mental do adolescente e pessoa adulta.

Guelman diz que ao invés da prescrição de medicamentos precisaríamos prescrever “parque”, “árvores”, “natureza”, brincadeiras, animais de estimação. Nas refeitas deveria constar “duas horas semanais mínimas de atividades ao ar livre”, observação da natureza e exercícios de atenção plena para crianças. O pesquisador também defende a interlocução entre educação e medicina, argumentando que o conhecimento de desenvolvimento humano dos pedagogos deveria dialogar dentro dos consultórios médicos, no sentido de consolidar a ideia de saúde conjugando práticas que fomentassem uma vida saudável com o contato com a natureza na escola e com a família.

Os exercícios físicos talvez sejam a recomendação mais popularmente aceita e que possui provas robustas de sua eficácia protetiva, estimulante e reabilitadora da saúde física e mental (Cevada, 2012), mas, infelizmente, ainda sim ainda existe uma certa resistência para algumas práticas. O fato que a prática esportiva, por si só, já diminui o tempo de tela, já que sua execução é excludente ao uso dos dispositivos eletrônicos.


Recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).


“A cultura moderna nos ensina a negar nossos instintos e percepções sensoriais em favor da razão e da lógica, mas isso nos leva a uma vida desenraizada e desconectada do nosso eu mais profundo" Rolando Toro.

A OMS recomenda que as crianças de 0 a 5 anos não passem mais de uma hora por dia em frente a telas eletrônicas, e que crianças de 6 a 17 anos tenham um limite de duas horas por dia. Essas recomendações foram baseadas em uma revisão de estudos científicos sobre o uso de telas e seu impacto na saúde infantil, que mostraram que o uso excessivo de telas pode afetar negativamente a qualidade do sono, o desenvolvimento cognitivo e físico, e aumentar o risco de obesidade e problemas de saúde mental (Organização Mundial da Saúde, 2019).

Recomendações da Academia Americana de Pediatria (AAP).

A AAP recomenda que crianças de 2 a 5 anos tenham um limite de uma hora por dia em frente a telas, enquanto crianças mais velhas devem ter limites individualizados, baseados em sua idade, necessidades e interesses. Essas recomendações foram baseadas em uma revisão de estudos científicos sobre o uso de telas e seu impacto na saúde infantil, que mostraram que o uso excessivo de telas pode afetar negativamente a qualidade do sono, a linguagem e habilidades sociais, e aumentar o risco de obesidade e problemas de saúde mental (American Academy of Pediatrics, Council on Communications and Media, 2016).


|Recomendações do Governo Australiano.


O governo australiano recomenda que crianças de 2 a 5 anos tenham um limite de uma hora por dia em frente a telas, enquanto crianças de 5 a 18 anos devem ter um limite de duas horas por dia. Essas recomendações foram baseadas em uma revisão de estudos científicos sobre o uso de telas e seu impacto na saúde infantil, que mostraram que o uso excessivo de telas pode afetar negativamente a qualidade do sono, o desenvolvimento cognitivo e físico, e aumentar o risco de obesidade e problemas de saúde mental (Australian Government Department of Health, 2014).

A principal conclusão dos estudiosos no assunto prevê uma redução do tempo de exposição aos dispositivos móveis. Para reforçar essa recomendação podemos citar a revisão sistemática o sobre o uso de telas e sua relação com a saúde infantil, liderada por Valerie Carson e intitulado "Systematic review of sedentary behaviour and health indicators in school-aged children and youth: an update", analisou a relação entre o comportamento sedentário e indicadores de saúde em crianças e jovens em idade escolar. Esse estudo publicado na revista científica Applied Physiology, Nutrition, and Metabolism em 2016, concluiu que o uso excessivo de telas está associado a uma série de problemas de saúde, incluindo obesidade, pressão alta, diabetes tipo 2, distúrbios do sono, problemas de comportamento e desenvolvimento cognitivo. Com base nesses resultados, os autores recomendam limites de tempo de tela para crianças de todas as idades, embora reconheçam que esses limites podem variar dependendo das necessidades e interesses individuais de cada criança (Carson et al.,2016).


Pediatria Integrativa e utilização de Telas.


"O uso constante de celulares e dispositivos eletrônicos pode prejudicar a qualidade do sono e, portanto, a saúde geral." - National Sleep Foundation.


A Pediatria Integrativa é uma abordagem holística da medicina que busca integrar práticas médicas convencionais com terapias complementares e integrativas para o cuidado infantil, levando em consideração não só o aspecto físico do paciente, mas também aspectos emocionais, sociais e espirituais da saúde. A exposição à natureza é utilizada por essa abordagem na medida que o contato com a natureza tem sido associado a diversos benefícios para a saúde, como a redução do estresse, melhora na saúde mental e bem-estar, melhora da qualidade do sono, entre outros.

Embora não exista uma lista exaustiva de todas as doenças que a exposição à natureza pode prevenir ou coibir, existem algumas que têm sido objeto de estudo e são mencionadas com frequência na literatura científica. Estudos têm sugerido que a exposição à natureza pode reduzir o risco de doenças cardiovasculares, como hipertensão arterial, doença coronariana e acidente vascular cerebral (Hartig et al., 2014). A exposição à natureza também pode ajudar a prevenir doenças respiratórias, como asma e alergias, por meio da redução da poluição do ar e da melhora da qualidade do ar (Tischer, 2017). Além disso pode ajudar a prevenir a obesidade, pois incentiva a prática de atividades físicas ao ar livre e reduz o consumo de alimentos não saudáveis (Coelho, 2015). A exposição à natureza pode ajudar a prevenir e tratar a depressão e a ansiedade, pois tem efeitos positivos no humor e na saúde mental (Bratman et al., 2012).

Outra possível redução de risco de estresse, previnindo doenças relacionadas a ele, como distúrbios do sono, dor crônica e doenças autoimunes (Lee et al., 2011).

Redução do tempo de tela, uma responsabilidade dos adultos.

"O desenvolvimento dos sentidos é uma parte importante da plasticidade cerebral. A experiência sensorial molda a estrutura e a função do cérebro e influencia o comportamento." Michael Merzenich.

Educadores, terapeutas, cuidadores e toda a classe intelectual tem um papel fundamental na conscientização da sociedade para que sejam estabelecidos incentivos às praticas saudáveis que protejam as crianças e adolescentes. O legislativo e o Estado devem emergencialmente intervir e iniciar um trabalho colaborativo, baseado em evidências científicas, que seja consolidada uma política de saúde dedicada a este tema, de forma que deflagre um movimento de conscientização com agilidade e engajamento com o objetivo comum que é a saúde dos jovens. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU, 2019), teremos em 2023 uma população global de aproximadamente 7,8 bilhões de habitantes, sendo 26% dessa população menor que 15 anos de idade. Logo, teremos mais que 2 bilhões de jovens e crianças espalhados por todo o mundo vivendo essa realidade.



Referências.


American Academy of Pediatrics, Council on Communications and Media. Media and Young Minds. Pediatrics, v. 138, n. 5, p. e20162591, 2016. Disponível em: https://pediatrics.aappublications.org/content/138/5/e20162591 . Acesso em: 09 mar. 2023.

Australian Government Department of Health. Australia’s Physical Activity and Sedentary Behaviour Guidelines. Disponível em: https://www1.health.gov.au/internet/main/publishing.nsf/content/health-pubhlth-strateg-phys-act-guidelines , 2014. Acesso em: 09 mar. 2023.

BRATMAN, Gregory N.; HAMILTON, J. Paul; DAILY, Gretchen C. The impacts of nature experience on human cognitive function and mental health. Annals of the New York academy of sciences, v. 1249, n. 1, p. 118-136, 2012. Disponível em: https://nyaspubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/j.1749-6632.2011.06400.x Acessado em: 30/04/2023AAP;

CARSON, Valerie; GRAY, Casey E., JANSSEN Ian, BIDDLE, Ian Stuart J. H., TREMBLAY, Mark S..et al. Systematic review of sedentary behaviour and health indicators in school-aged children and youth: an update. Applied Physiology, Nutrition, and Metabolism, v. 41, n. 6 (Suppl. 3), p. S240-S265, 2016. Disponível em:https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21936895/ , Acessado 30/04/2023

CEVADA, Thais et al. Relação entre esporte, resiliência, qualidade de vida e ansiedade. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), v. 39, p. 85-89, 2012.

COELHO, Ana et al. Oferta educativa outdoor como complemento da Educação Pré-Escolar: Os benefícios do contacto com a natureza. Revista de Estudios e Investigación en Psicología y Educación, p. 111-117, 2015. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Isabel-Duque-2/publication/287216901_Oferta_educativa_outdoor_como_complemento_da_Educacao_Pre-Escolar_Os_beneficios_do_contacto_com_a_natureza/links/5674577808ae502c99c7841a/Oferta-educativa-outdoor-como-complemento-da-Educacao-Pre-Escolar-Os-beneficios-do-contacto-com-a-natureza.pdf Acessado: 30/04/2023

GUELMAN, Diálogos Do Brincar #14: O Brincar E A Saúde Integral Infantil, Site Território do Brincar, 2017, Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4FVO8s2wcVo Acessado: 30/04/2023

HARTIG, T., Mitchell, R., de Vries, S., & FRUMKIN, H. (2014). Nature and health. Annual Review of Public Health, 35, 207-228. Disponível https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24387090/ Acessado : 30/04/2023

LEE, Juyoung et al. Effect of forest bathing on physiological and psychological responses in young Japanese male subjects. Public health, v. 125, n. 2, p. 93-100, 2011. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0033350610003203 Acessado: 30/04/2023

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ONU, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais, Divisão de População. World Urbanization Prospects: The 2018 Revision (ST/ESA/SER.A/420). Nova York: ONU, 2019. Disponível em: https://population.un.org/wup/Publications/Files/WUP2018-Report.pdf . Acesso em: 12 mar. 2023.

TISCHER, C.; GASCON, M.; FERNÁNDEZ-SOMOANO, A.; TARDÓN, A.; LERTXUNDI MATEROLA, A.; IBARLUZEA, J.; FERRERO, A.; ESTARLICH, M.; CIRACH, M.; VRIJHEID, M.; FUERTES, E.; DALMAU-BUENO, A.; NIEUWENHUIJSEN, M. J.; ANTÓ, J. M.; SUNYER, J.; DADVAND, P. Urban green and grey space in relation to respiratory health in children. Eur Respir J, [S.l.], v. 49, n. 6, p. 1502112, jun. 2017. DOI: 10.1183/13993003.02112-2015. PMID: 28642307. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28642307/ Acessado: 30/04/2023

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