Hipnose Recreativa, Viagem ao mundo dos Sonhos e "Shifting"
- Fernando Nicolau
- 28 de dez. de 2020
- 9 min de leitura
Atualizado: 18 de fev. de 2024
Hipnose Recreativa tem o potencial de permitir uma viagem lúcida construída por nosso inconsciente. Um acesso tal qual estivéssemos em vigília ao nosso mundo dos sonhos. O processo pode ser totalmente controlado pelo "sonhador" e essa construção de realidade pode ser tecnicamente planejada com a ajuda de um Hipnoterapeuta experiente. O método portanto utilizado para mudança de realidade possui como ferramenta principal a hipnose.
Benefícios da Viagem Lúcida a uma Realidade Desejada:
A prática do sonho lúcido tem sido experimentado pelo Ser Humano para fins distintos e em momentos históricos diferentes. Seu potencial para o desenvolvimento humano é surpreendente. Abaixo enumeramos algumas destas qualidades e potenciais:
1 - Trazer a tona conteúdos inconscientes, úteis à análise à prática da psicoterapia.
2 - Induzir um estado de conexão com a vida, com potencial terapêutico.
3 - Facilitar uma espécie de religação aos desejos íntimos, habilidades, talentos, que podem colaborar na pretensão ou na promoção de mudanças de vida alinhadas aos potenciais da pessoa.
4 - Desenvolvimento da criatividade, criação de projetos originais, conexão com a imaginação ativa, escrita automática, com grande potencial para influenciar a criação de arte.
5 - Facilitar a busca de soluções técnicas na busca de resolução de problemas.
6 - Trabalhar vocações, força vital, empatia, relacionamento pessoal e desenvolvimento profissional.
7 - Facilitar a experimentação de sensações e fenômenos prazerosos como levitação, voos, êxtase estético, sentimentos transcendentes e de libertação corporal.
"Sonhos estão também envolvidos nos processos de criatividade e solução de problemas. Um dos casos mais conhecidos desta relação é o de Mendeleyev que resolveu o problema da tabela periódica da química, através de um sonho. Muitos artistas e músicos também foram inspirados por sonhos: Mendeleyev viu um quadro completo com as substâncias químicas da tabela periódica durante um sonho; Herschel sonhou com o planeta Urano antes de tê-lo descoberto; Thomas Edison utilizou sonhos para dar origem a novas invenções; Salvador Dali costumava privar-se deliberadamente de sono a fim de induzir estados oníricos e visões provenientes do seu inconsciente;Beethoven, Wagner e Stravinsky sempre ouviam músicas nos seus sonhos, desde excertos a peças inteiras" (TEIXEIRA 2019)
Contemporaneidade:
No sécúlo XXI, percebemos esta prática sendo divulgada nas novas redes sociais, nomeadas por "Shifting" ou "Visiting" foram incorporados ao assuntos dos adolecentes deste milênio, que resgararam as práticas projetivas e de construção de realidades paralelas.
Abaixo os termos utilizados pelo "Shifting":
Script = Listagem de características da realidade, atuação de nossa consciência, poderes, aparencia física, idade, ou seja todos detalhes para a manifestação da consciência.
WR = Waiting Room - Lugar de transição entre realidades
CR = Current Reality - Realidade física experimentada na Terra.
DR = Desired Reality - Pretensa realidade criada, construída ou experimentada no plano astral.
TR = Temporary Reality - Transitoriedade da experiência.
Respawning = Ato de transferir a consciência para outra realidade, saída do corpo, decolagem.
DL = Desired Life - Escolha de mudança de realidade. Potencial de alteração da realidade.
IL = Ideal life - Escolhas pessoais para mudança de realidade.
IR = Ideal Reality - Realidade idealizada ou planejada.
SR - Shared Reality - Compartilhamento de uma mesma realidade por amigos.
Erwin Schrödinger, prêmio Nobel 1952, por exemplo, trouxe a ideia de Multiverso ao teorizar a existência de histórias diferentes, alternativas e simultâneas acontecendo em realidades distintas, ideia hoje conhecida como multiverso.
O Multiverso é a descrição de um conjunto hipotético de universos possíveis, incluindo o universo em que vivemos. Juntos compreendem tudo o que existe em todos Universos, a totalidade do espaço, do tempo, da matéria, da energia e das leis e constantes físicas que os descrevem. A extrapolação possível de algumas teorias científicas para descrever um grupo de universos que estão relacionados, os denominados universos paralelos.
O conceito de Multiverso tem suas raízes em extrapolações, até o momento não científicas, da moderna Cosmologia e na Teoria Quântica, e engloba também várias ideias oriundas da Teoria da Relatividade de modo a configurar um cenário em que pode ser possível a existência de inúmeros Universos onde, em escala global, todas as probabilidades e combinações ocorrem em algum dos universos. Simplesmente por haver espaço suficiente para acoplar outros universos numa estrutura dimensional maior: o chamado Multiverso.
A Neuropsicologia dos Sonhos Lúcidos:
"Neste item abordaremos a neurofisiologia dos sonhos lúcidos, buscando identificar características específicas destes sonhos e traçar correlações e diferenciações entre sonhos lúcidos e não lúcidos. Os sonhos lúcidos têm sido compreendidos, muitas vezes, como um tipo especial de sono REM, com características específicas. Diversas pesquisas têm buscado encontrar os correlatos neurofisiológicos dos SL, tentando identificar características peculiares aos SL, mas parece que ainda não alcançamos um consenso, embora haja avanços. Embora saibamos que durante os sonhos estamos com os olhos fechados, não havendo, portanto, inputs no córtex visual primário, um estudo de LaBerge e
Zimbardo (2000), aferiu que o olhar dos sonhos está mais relacionado à percepção do que à imaginação. Os participantes do experimento foram instruídos a realizar um protocolo de rastreamento específico para traçar um círculo com o braço esticado e seguir a ponta do dedo com o olhar, realizando essa tarefa durante a vigília, na imaginação e durante o sonho lúcido. Para todas as condições, o padrão ocular foi registrado pelo EOG. A análise dos movimentos oculares sacádicos discriminou claramente tanto os sonhos quanto a percepção da imaginação. Movimentos sacádicos são os deslocamentos que os olhos realizam, a cada segundo para a realização de uma tarefa onde seja necessário o controle ocular. Os resultados encontrados pelos autores indicam que o olhar do sonho está mais relacionado à percepção na vigília do que à imaginação. O estudo demonstrou ainda que mesmo o rastreamento suave dos movimentos dos olhos em sonhos lúcidos leva a atividades correspondentes no registro do EOG. Os resultados do estudo de LaBerge & Zimbardo, relacionando os movimentos oculares dos sonhos lúcidos com a percepção em vez da imaginação, reforçam a ideia e os relatos da experiência vívida e emocional dos sonhadores, que expressam seus sonhos com “sensação de realidade”, como se estivessem vivendo “realmente” os eventos do sonho. Uma alta correlação entre o olhar de sonho deliberadamente deslocado e os movimentos correspondentes dos olhos do corpo adormecido medido pelo EOG foi encontrado no trabalho de Erlacher (2005). Estes resultados reforçam as ressonâncias com a teoria da simulação neural de Decety (1996), conforme visto no item anterior. Estudos têm sido realizados também utilizando EEG buscando relações entre características dos sonhos e a localização relativa de áreas cerebrais. Na pesquisa dos sonhos lúcidos, poucos estudos foram feitos. Exploraremos alguns neste item, buscando diferenças nas características entre sonhos lúcidos e não lúcidos.
Holzinger, LaBerge e Levitan (2006), por exemplo, exploraram essas diferenças nas gravações de EEG no sono REM. Um achado indicou maior ativação do lobo parietal esquerdo para os sonhos lúcidos em comparação aos sonhos não lúcidos, o que poderia estar relacionada com a autoconsciência. Outros estudos realizados com sonhadores lúcidos (HEARNE, 1983;
FENWICK et al, 1984; LABERGE, NAGEL, DEMENT e ZARCONE, 1981) indicam uma estreita relação entre os movimentos de membros dos “corpos sonhados” e atividades de EMG (eletromiograma) no membro correspondente, apontando, mais uma vez, para a teoria da simulação neural, que indica que as ações sejam elas sonhadas ou imaginadas compartilham em grande medida, os mesmos substratos neurais das ações realizadas com o corpo físico durante a vida de vigília. Vale lembrar que em pessoas normais, o corpo durante o sonho tem seus movimentos inibidos e entrando em atonia muscular e, portanto, as ações sonhadas não mostram movimentos evidentes no corpo físico (SCHREDL, 2000). Contudo, mesmo em atonia muscular, os impulsos elétricos podem ser medidos nos músculos dos membros como foi explicado no item 6.2. As ideias envolvendo a teoria de simulação neural (DECETY et al, 1989 & JEANNEROD 1994, 2001) são fundamentais, já que emergem como suporte neurofisiológico aos achados que colocam os sonhos envolvidos nos processos de desenvolvimento de habilidades específicas, sejam elas cognitivas ou motoras e que são extensíveis aos sonhos lúcidos. LaBerge, Nagel, Dement e Zarcone (1981), também observaram que uma sequência de apertos de punho esquerdo e direito realizados durante o sonho lúcido resultou em correspondentes espasmos do antebraço esquerdo e direito, aferidos pelo EMG. Erlacher (2005) demonstrou que a atividade eletromiográfica do antebraço de uma pessoa sonhadora lúcida pode mudar durante uma série de movimentos da mão realizados durante o sonho. Vale lembrar que os dados obtidos em pesquisas envolvendo sonhos lúcidos e não lúcidos indicam que os mecanismos fisiológicos inibem a maior parte da atividade dos músculos esqueléticos que, de outra forma, se fariam presentes nos movimentos produzidos durante a atividade onírica, o que é conhecido como atonia muscular, já anteriormente mencionada."
(...)
"Os estudos de Voss e colaboradores observaram que uma diferença fundamental entre o SL e o não lúcido tem sido observada, exatamente, na banda gama, principalmente a 40Hz nas regiões frontais e fronto-laterais (VOSS et al, 2009; VOSS & VOSS, 2014). No artigo de 2014, Voss apresenta suas observações para produção das bases para um modelo neurobiológico para os SL. Como a pesquisadora é um dos nomes mais prestigiados na área e dedicada, especialmente, ao tema nos seus aspectos neurobiológicos, detalharemos alguns aspectos centrais.
1) O primeiro aspecto refere-se que a condição de lucidez durante o sonho permite aos pesquisadores acompanharem as mudanças cerebrais que ocorrem entre um modo e outro de estados de consciência, passando de um estado de consciência primária para secundária (Ibid). De forma resumida, podemos entender:
a) consciência primária - caracterizada pela fusão de passado, presente e futuro, devido a uma atenuação do córtex pré-frontal que ocorre durante o sono REM (normal/não lúcido), levando o sonhador à diluição do pensar lógico ou de tomar
decisões significativas, como vimos anteriormente neste capítulo. A consciência primária é um estado que permite uma consciência simples.
b) consciência secundária - permite planejamento com antecedência, reflexão sobre seu passado e visualização de seu futuro (VOSS & VOSS, 2014).
Humanos e primatas desenvolveram, segundo a autora, essa forma superior de consciência denominada consciência secundária, que envolve consciência da consciência e requer volição, pensamento racional e auto--reflexão. Esse modelo de bimodalidade da consciência apresentado por Voss guarda profundas conexões e convergências com as ideias de Edelman de distinção entre consciência primária e secundária (EDELMAN, 2003; EDELMAN, 2005).
2) Sonho lúcido é aquele que surge do sono REM.
Essa demarcação metodológica também é importante para separar o fenômeno dos SL, das imagens oriundas do estado hipnagógico, ocorridas numa fase inicial de transição entre a vigília e o sono, mas que não devem ser consideradas como SL. Essa diferenciação afastaria a questão da relação dos microdespertares com os SL. Seria relevante considerar se os sujeitos que alegam ter sonhos lúcidos neste estágio apresentam outras características associadas aos sonhos lúcidos nos seus relatos, como consciência da vida de vigília ou a capacidade de realizar alguma tarefa pré-determinada antes do sonho. Esses aspectos poderiam gerar mais elementos para a compreensão e melhor demarcação
dos SL em pesquisas futuras.
3) Normalmente, os sonhos do sono REM são acompanhados por sincronização na banda de frequência gama, especialmente nas partes frontais do cérebro, sugestiva de um rebaixamento da consciência e de funções executivas do ego.
4) Em contraste, temos um forte aumento na banda de atividade gama nos sonhos lúcidos. Todas as frequências mais baixas permanecem inalteradas, dando suporte à noção que o sono – e mesmo o sono REM - está mantido (VOSS&VOSS, 2014). Voss e sua equipe criaram uma escala de consciência e lucidez em sonhos, produzida por uma equipe interdisciplinar formada por psiquiatras, psicólogos e filósofos. Os estudos para a produção desta escala resultaram em oito fatores, entendidos pelos autores como relevantes para a consciência nos sonhos. São eles:
1) “insight”;
2) Realismo;
3) Controle;
4) Memória;
5) Pensamento;
6) Emoções positivas;
7) Emoções negativas;
8) Dissociação.
No comparativo direto entre os dois tipos de sonhos, de acordo com os resultados obtidos no estudo, os sonhos não lúcidos (SNL) obtiveram baixa pontuação em todos os itens da escala, excetuando “realismo”. Os SL diferiram dos sonhos não lúcidos, em seis dos oito itens da escala: o fator principal foi “insight”, seguido por “pensamento”, “controle” e “emoções positivas”. O fator “insight” é determinante, pois, é através dele que o sonhador percebe que está sonhando e,
desta forma, pode evoluir para os outros fatores. Buscamos identificar algumas correlações dos SL com esses fatores no questionário que desenvolvemos, como insights, recordações da vida de vigília durante o sonho, controle sobre os elementos do sonho, se a lucidez surgia em sonhos que começavam com emoções positivas ou negativas, etc.
Outro dado relevante extraído dos resultados desse estudo é a relação da distinção entre consciência primária e secundária nos sonhos, já introduzida anteriormente neste capítulo, destacando que o “insight” é a característica definidora dos SL e aspecto central da consciência secundária, sendo o SL relacionado à emergência de outras características da consciência secundária, como a capacidade de reflexão, incluindo aspectos de desdobramento dos sonhos (op.cit). A relação entre “insight” e controle está igualmente clara, visto que perceber que alguém está sonhando, é uma importante condição para tentar controlar não somente o comportamento no sonho, mas o próprio sonho.
Embora existam avanços importantes, os aspectos neurofisiológicos dos sonhos lúcidos ainda necessitam de novas investigações, como as promissoras induções de lucidez através de estimulação cerebral na banda gama, durante o sono
REM" (TEIXEIRA,2019).

Bibliografia:
TEIXEIRA, Alexandre Valença, SONHOS LÚCIDOS: Desenvolvimento de Habilidades e Terapias, 2019, UFRJ.
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