Características das fases do Sono
- Fernando Nicolau
- 29 de dez. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 18 de fev. de 2024
Abaixo uma análise detalhada de TEIXEIRA(2019) em seu Doutorado na UFRJ.
"O conhecimento sobre o processo do sono foi ampliado graças ao desenvolvimento de técnicas para registro das ondas cerebrais através do EEG, o que permitiu a discriminação objetiva entre a vigília relaxada e o sono e entre os diferentes estágios do sono. O estado de sono é caracterizado por padrões de ondas cerebrais típicos, que explicitaremos mais adiante. Vale lembrar, contudo, que o sono não é um fenômeno homogêneo. A ciência tem demonstrado através de técnicas detectáveis por aparelhos, que a entrada em determinados estágios do sono exibem, em correlações com as vivências dos indivíduos, traçados que se alteram ao longo do sono, formando padrões que são usados para classificar as diferentes fases do sono. Para avaliar o sono e suas fases, são usados alguns critérios, conforme abaixo:
1) Neurofisiológicos
- EEG – lentificação inicialmente alternante, depois progressiva.
- EOG – movimentos oculares próprios das fases do sono.
- EMG – alterações características das fases do sono, mas em geral, há uma redução do tono muscular.
2) Comportamentais
- Mobilidade nula ou ligeira
- Olhos fechados
- Resposta reduzida a estímulos exteriores
Atualmente, os estudos sobre sono têm utilizado registros polissonográficos, valendo-se de outras variáveis funcionais além do EEG. Nos exames polissonográficos são registradas as variações fisiológicas que monitoram três parâmetros principais (CARSKADON & RECHTSCHAFFEN, 1994).
a) eletrencefalograma (EEG)
b) eletro-oculograma (EOG)
c) eletromiograma (EMG)
Os parâmetros de definição do sono são, portanto, identificados a partir das medições realizadas pelos registros polissonográficos, indicadores das diferentes fases de sono e suas características. Abaixo as bases técnicas de realização destes registros:
Eletro-oculograma – EOG
O eletro-oculograma realiza o registro eletrofisiológico da atividade motora do globo ocular. Uma das razões para o registro do movimento dos olhos é para auxiliar a identificação do estado REM do sono. A segunda razão, mais específica, é para auxiliar a identificação do estado SEM (Slow Eye Moviment), que acontece na maior parte dos humanos logo no início do sono. A atividade motora do globo ocular não é constante durante todo o sono e o aparelho registra essas atividades durante o período do sono (GUIOT, 1996). O EOG é registrado através de eletrodos colocados nos cantos externos de ambos os olhos no plano horizontal.
Eletromiograma – EMG
O Eletromiograma é o registro das alterações no potencial elétrico produzidas pelos músculos por meio de eletrodos de superfície ou agulhas. Em um registro padrão de polissonografia, o registro da parte inferior do queixo é usado como um critério para a identificação do estágio REM do sono. O registro de outros grupos de músculos pode ser usado como auxiliar para certos tipos de distúrbios do sono. Por exemplo, o EMG da tíbia é utilizado para verificar se o paciente possui movimentos periódicos durante o sono. O registro para monitoração do estado REM é realizado através de três eletrodos localizados na parte inferior do queixo,sobre os músculos submentonianos.
O Eletroencefalograma – EEG
O EEG (eletroencefalograma) é o registro elétrico contínuo da superfície do cérebro, em que a intensidade e os padrões dessa atividade contínua são determinados, em grande parte, pelo nível global de excitação resultante do sono, da
vigília e sintomas como epilepsia (SCHAUF et al, 1993). A intensidade elétrica da onda pode variar de 0 a 200 m V, e sua frequência pode variar de 1 a 50 Hz. As ondas cerebrais, normalmente, são classificadas segundo a sua
frequência, sendo nomeadas como: alfa, beta, teta e delta. Não há um consenso absoluto entre autores sobre a classificação. Segundo Schauff, a classificação das ondas cerebrais, de forma aproximada, é a seguinte (SCHAUFF et al, 1993):
Tabela 1 – Classificação das frequências cerebrais
Tipo Hz
Delta < 3,5
Teta 04 a 07
Alfa 08 a 13
Beta 14 a 25
O estado de vigília é caracterizado pelo sujeito desperto em sua plena manifestação da atividade perceptivo-sensorial e motora voluntária. A vigília tranquila é caracterizada por um período de atividade elétrica alfa (8 a 13Hz) e/ou baixa voltagem, apresentando o EEG desse estágio uma frequência mista, acompanhado por alta atividade eletromiográfica e frequentes movimentos oculares voluntários. Em muitos indivíduos relaxados, o EMG pode ser indistinguível do sono NREM. O sono é dividido em fases com características neurofisiológicas específicas e pode ainda ser visto sob uma divisão inicial entre as fases de sono REM e NREM. O sistema de classificação dos estágios do sono atualmente mais aceito foi proposto por Rechtschaffen e Kales, ainda na década de 1960 (RECHTSCHAFFEN & KALES 1968). Uma premissa importante desse sistema de classificação é que o sono REM, sono NREM e a vigília são estados da consciência fundamentalmente diferentes, determinados por variáveis eletrográficas e fisiológicas. Nem o sono nem a vigília são considerados processos unitários, e as subdivisões são quase sem limites dentro de qualquer estágio. A classificação dos estágios de sono é realizada em intervalos de registro entre 20 e 60 segundos, denominados de “época.” As épocas podem ser classificadas da seguinte forma:
– Vigília
– Sono NREM (não REM)
– • Estágio 1 do sono
– • Estágio 2 do sono
- • Estágio 3 do sono
– • Estágio 4 do sono
– Sono REM
O Sono Paradoxal e Suas Diferenciações. O sono REM caracteriza-se por ser um estágio de sono profundo no tocante à
dificuldade de se despertar o indivíduo, exibe padrão eletrencefalográfico que se assemelha ao da vigília com olhos abertos; por esse motivo, ficou conhecido como “sono paradoxal”. O sono REM é marcado por EEG de atividade de frequência mista, baixa voltagem e é acompanhado por uma série de alterações fisiológicas. A atividade muscular, normalmente registrada nos músculos submentonianos, atinge os níveis mais baixos durante o sono REM. Observa-se, ainda, aumento na temperatura cerebral e maior consumo de oxigênio durante esta fase. Alguns abalos musculares vistos no sono REM podem ser relacionados às imagens mentais dos sonhos. Nesta fase do sono, a atividade onírica é intensa, envolvendo situações emocionalmente fortes e cenas visualmente vívidas. Normalmente, o sono REM constitui cerca de 20 a 25% do tempo total de sono nos indivíduos adultos (PINTO JUNIOR, 2000).
Atualmente, sabemos que, embora os sonhos sejam muito mais comuns durante o sono REM, eles podem ocorrer também durante o sono (NREM). Ainda que sejam apenas estimativas, avalia-se que entre 25 e 50% dos períodos de sono NREM estejam associados a sonhos. Além disso, 5 a 30% dos períodos de sono REM, parecem ocorrer sem qualquer sonho (SOLMS, 2000). As diferenças, contudo, não são apenas quantitativas, como veremos adiante, em uma comparação do sono REM, versus Sono NREM. Segundo Carskadon e Dement (1994), pioneiros nas pesquisas envolvendo fases do sono, o sono considerado normal, em um jovem adulto, possui algumas características próprias. Entre elas, podemos verificar:
-O sono é iniciado pelo estado NREM;
-Os estados NREM e REM se alternam em períodos de 80/90 minutos aproximadamente;
-O sono de ondas lentas (NREM) predomina no primeiro terço da noite, e está ligado à iniciação do sono;
-O sono REM predomina no último terço da noite de sono, e está ligado ao ritmo circadiano da temperatura do corpo 21 ;
-Estágio 1 normalmente compreende de 1 a 5 % do sono;
-Estágio 2 normalmente compreende de 45 a 50 % do sono;
-Estágio 3 normalmente compreende de 3 a 8 % do sono;
-Estágio 4 normalmente compreende de 10 a 15 % do sono;
-Considerando os estágios, o sono NREM chega a atingir 80% do sono;
-O sono REM compreende de 20 a 25 % do total do sono.
Vale frisar que os padrões acima citados têm como referência o jovem adulto, uma vez que o sono é variável em função da idade."
Referência:
TEIXEIRA, Alexandr
e Valença, SONHOS LÚCIDOS: Desenvolvimento de Habilidades e Terapias, 2019, UFRJ.
Comments